14 março 2024

Casimiro de Abreu: Meus Oito Anos

 Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!


Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!


Como são belos os dias

Do despontar da existência!

– Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;


O mar é – lago sereno,

O céu – um manto azulado,

O mundo – um sonho dourado,

A vida – um hino d’amor!


Que aurora, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!


O céu bordado d’estrelas,

A terra de aromas cheia

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!


Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!


Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minhã irmã!


Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberta o peito,

– Pés descalços, braços nus –


Correndo pelas campinas

A roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!


Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;


Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo.

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!


Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!


– Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

A sombra das bananeiras

Debaixo dos laranjais!